17 de julho de 1994 - após 24 anos, o Brasil ganhou seu quarto título mundial na Copa do Mundo dos EUA, num confronto sem gols contra a Itália que acabou sendo decidido nos pênaltis. Quando Roberto Baggio errou sua cobrança, o Brasil inteiro foi ao êxtase. O tão perseguido Tetracampeonato enfim era conquistado. Romário, Bebeto, Branco, Dunga, Taffarel e toda a Seleção eram os novos herois do Olimpo do futebol brasileiro.
Enquanto isso, num lar da Zona Leste, alguns brasileiros não podiam comemorar esse momento histórico do Brasil pois estava pranteando um dos seus que infelizmente havia acabado de falecer. Eu tinha 26 anos e era parte dessa família atingida pela tragédia. Meu irmão Alexsander havia perdido a vida e tinha apenas 18 anos de idade.
Mas todos os fatos que chegaram a esse trágico clímax tiveram início na noite do dia anterior. Como todo brasileiro que se prezasse, estávamos ansiosos pela final da Copa do Mundo e estava tudo preparado para uma possível festa se o Brasil conquistasse o título. Minha irmã Angela tinha acabado de dar à luz sua filha Marjorie, que tinha alguns dias de vida e a família também estava feliz com esse presente de Deus.
Era um sábado, 21 horas e estávamos vendo um programa humorístico. Meu irmão Alexsander chegou em casa. Ele já não morava conosco há alguns meses após alguns desentendimentos com o namorado de minha mãe. Ele chegou, sentou-se à cama para ver TV conosco. Lembro-me das risadas que dávamos com os esquetes do programa. Pouco tempo depois, chegava meu cunhado, Idelfonso, marido de Ângela e pai da Marjorie. Brincamos com ele dizendo que não aguentava ficar longe da cria. Só que Idelfonso tinha um semblante sério e parece nem ter ouvido nossos comentários. Sua atenção estava voltada pala Alexsandro e então ele o chamou: "- Vamos lá fora. Tem uns caras querendo falar contigo", no que ele respondeu meio ressabiado: "-que caras?". Numa questão de segundos, Idelfonso sacou uma arma e gritou para Alexsander: "- está enquadrado!", passando a efetuar disparos contra ele. A coisa foi tão rápida e ao mesmo tempo parecia cena de um filme desses do Tarantino, como uma espécie de balé macabro e performático. Meu irmão tombou na cama após levar um trio na cabeça. Ficamos aturdidos com aquela cena. Meu cunhado simplesmente saiu sem que pudéssemos esboçar nenhuma reação. O próximo passo foi tentar socorrê-lo o mais rápido possível. Meu irmão Adriano e meu outro cunhado Alessandro pegaram o Alexsander ainda respirando e correram para o hospital. Fiquei com minha mãe, minha irmã e os menores. Milhares de pesnamentos passavam pela minha cabeça. Nunca havia visto algo assim na vida. Eu tive vontade de sair e vingar o ataque fatal ao meu irmão. Olho por olho. Minha mãe conseguiu demover-me da ideia. Ela não queria perder outro filho no mesmo dia.
No dia seguinte, veio a notícia que não queríamos ouvir: Alexsander não resistiu aos ferimentos, sobretudo a bala que perfurou-lhe a cabeça e então nosso mundo veio por terra. Um dos nossos havia morrido. Enquanto isso, o Selecionado Canarinho entrava em campo para a disputa da Final da Copa do Mundo
Alguns dia depois, a história toda veio à tona. Meu irmão, louco de paixão pela irmã de Idelfonso e não se conformando em perder a amada, ameaçou a mãe de meu cunhado por ter-lhe tirado a vida]. Idelfonso era um homem que prezava a família acima de tudo e quis vingara a afronta, mesmo colocando em risco a vida da filha recém-nascida que estava a alguns metros de Alexsannder no momento da tragédia.
O tempo, grande sábio, incumbiu-se em tratar as feridas. Idelfonso foi julgado pelo crime e acabou sendo inocentado. Pôde voltar para sua esposa, minha irmã e os filhos. Nós relevamos o que fez e o perdoamos, apesar de ter tirado nosso irmão de nosso convívio.
Querido leitor, desculpe, se este relato parece mais uma crônica de reportagem digna das páginas policiais, mas é que esse dia, 17 de julho, me traz recordações do fatídico dia em que perdi o meu irmão e fui testemunha ocular de uma tragédia. Talvez o tempo possa fazer-me esquecer e o esse dia possa voltar a ser igual aos outros.
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